Portentoso e altaneiro

Esse blog é uma homenagem ao samba "Ciência e Arte", de Carlos Cachaça e Cartola, composto para o enredo da Mangueira de 1947. Carioca meio paulista, gosto mais de gente que de bicho, curto livros, cinema, música, poesia, viagens, comes e bebes, e um bom papo. Aqui vou postar minhas opiniões sobre assuntos do cotidiano. Quem quiser compartilhar, esteja à vontade!

24.5.05

Casa de areia


Semana passada, fui assistir Casa de Areia, de Andrucha Waddington. Não podia deixar de conferir a atuação das Fernandas num filme que conta a história de três gerações de mulheres, todo rodado nos Lençóis Maranhenses.

São 59 anos em que não acontece nada, mas o nada é também tudo, e mãe, filha e neta são confrontadas com a vida, o desejo, a morte, a natureza.

Logo nos primeiros minutos, a imagem da caravana na paisagem grandiosa e desoladora do deserto encanta e assusta. O que aquela gente tá fazendo ali? Estão indo pra onde? Foram em busca do quê?

Essas perguntas perdem um pouco o sentido dali pra frente.

Se existia alguma razão para aquela jornada, ela fugiu com os empregados ou morreu junto com o marido, um aventureiro que comprou um naco de terra num deserto de areia e carregou pra lá a mulher grávida, a sogra e um séqüito de empregados.

As duas mulheres, mãe e filha, se vêem ali, arrastadas para um ambiente inóspito e para uma vida de isolamento que não escolheram. Elas tentam ir embora, mas desistem diante o labirinto de areia. Vão se adaptando as condições, aprendendo a trocar seus pertences por comida pra sobreviver, ao mesmo tempo em que aprendem a abandonar o supérfluo e viver com o essencial. Quando percebem, estão irremediavelmente presas àquele lugar e àquela vida.

Os únicos homens ali são Massu, o negro pescador, de cara amarrada e pouco papo, que vive numa aldeia - um antigo quilombo a algumas horas de caminhada da casa delas - e as ensina a sobreviver no meio do areal; e Chico, o vendedor de sal, o único que chega e parte, e mantém viva na viúva a esperança de sair dali.

A mãe, Dona Maria, com sua maturidade, é a primeira a se acomodar e perceber algum sentido naquele ambiente desprovido de qualquer vestígio de civilização (“não tem nenhum homem pra mandar em mim”).

A filha, mesmo depois de 9 anos, não se conforma com o isolamento, e sonha em voltar à vida na cidade. Só desiste de partir quando descobre o amor improvável nos braços de Massu. Num dos trechos mais bonitos do filme, ela sai atrás do vendedor de sal, o único que podia tirá-las daquele lugar e, depois de testemunhar um eclipse do sol, se depara com uma expedição de cientistas estrangeiros registrando o fenômeno. Nesse acampamento militar, ela tem um reencontro com os prazeres da vida, a vaidade, a música e o sexo. É maravilhoso!

A neta, que nasceu entre as dunas e o mar, e nunca conheceu outra vida, é a única que consegue se livrar do destino, ou ir ao encontro dele... Mesmo assim, só aos 35 anos.

O final, que eu não sou louca de contar, também é arrebatador! As mulheres, a natureza, o ciclo da vida e da morte, as escolhas, os reencontros...

Se os diálogos são contidos, todo o resto é grandioso: o céu, as dunas, o vento, o mar, as emoções, os desejos. Um filme pra fazer pensar... e pra se ver mais de uma vez!

PS: Nesse post, a música ficou comprometida... Mas, pra ficar no clima do filme, tente imaginar o barulho do vento, das rajadas de areia e do mar aberto...

1 Comentários:

Blogger Léo Beck disse...

Preciso assistir esse filme...

25 maio, 2005 10:23  

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial