Portentoso e altaneiro

Esse blog é uma homenagem ao samba "Ciência e Arte", de Carlos Cachaça e Cartola, composto para o enredo da Mangueira de 1947. Carioca meio paulista, gosto mais de gente que de bicho, curto livros, cinema, música, poesia, viagens, comes e bebes, e um bom papo. Aqui vou postar minhas opiniões sobre assuntos do cotidiano. Quem quiser compartilhar, esteja à vontade!

30.5.05

Dia de banquete no Centro da Cidade - Cont.


Saímos do Nova Capela direto para o Centro Cultural Banco do Brasil, onde as 16hs seria inaugurada a exposição Alegoria Barroca na Arte Contemporânea, onde tínhamos marcado de encontrar a minha irmã Olga e a nossa amiga Beth. É aí que entra o outro banquete do dia...

A “proposta” dessa exposição é mostrar a influência do barroco na arte dos nossos dias, e isso é feito através de fotografias e performances de artistas brasileiros e alemães.

A maioria das fotos são de igrejas barrocas do Rio, Salvador, Ouro Preto e Alemanha, e as performances são de todos os tipos. Mas, a principal, que aconteceu justamente no dia da inauguração, foi um típico banquete do séc. XVII. Só pra vocês terem uma idéia, no foyer do CCBB estava montado um verdadeiro banquete, com frutas, pães, frios, queijos, pastas... Só que a toalha da mesa era a saia de duas mulheres que ficavam no meio, vestidas, maquiadas e penteadas como antigamente, comendo e servindo comida aos visitantes... Tudo mutcho lôco!

Tinha uma instalação que tentava reproduzir as naturezas-mortas da pintura barroca, e para isso a artista Laura Lima colocou dois faisões e dois pavões de verdade na rotunda do CCBB, junto com romãs, repolhos e pimentões. Não preciso nem dizer que o João Pedro adorou... Tiramos algumas fotos e daqui a pouco uma mulher veio chamar a atenção do Zé por causa do flash que estava deixando as aves estressadas... Ah, fala sério! Eles colocam os pobres bichinhos ali no meio do povo todo, no maior falatório, como se fossem carne exposta na vitrine, e depois vem reclamar do flash... Faz favor, né?

Tinha também um maluco, ops!, um “performer”, que cooptou uns voluntários mais loucos que ele no meio da festa e distribuiu copos e fitas para que prendessem os copos nas mãos, braços e rosto. A brincadeira consistia em encher com água um dos copos presos ao corpo e ficar passando a água de um copo para o outro sem derramar... A minha sorte foi que nessa hora o João Pedro estava distraído com outra coisa e não prestou muita atenção no desafio, senão eu tava perdida!

Ficamos a fim de ver a performance musical “Quixote” do Tato Taborda, que construiu uma geringonça multi-instrumental batizada de “Geralda”, que deve pirar o cabeção da galera quando começa a tocar todos aqueles instrumentos juntos.


Comida, Titãs
Bebida é água / Comida é pasto / Você tem sede de quê? / Você tem fome de quê? / A gente não quer só comida / A gente comida, diversão e arte / A gente não quer só comida / A gente quer saída para qualquer parte / A gente não quer só comida / A gente quer bebida, diversão, balé / A gente não quer só comida / A gente quer a vida como a vida quer / Bebida é água / Comida é pasto / Você tem sede de quê? / Você tem fome de quê? / A gente não quer só comer / A gente quer comer e quer fazer amor / A gente não quer só comer / A gente quer prazer pra aliviar a dor / A gente não quer só dinheiro, / A gente quer dinheiro e felicidade / A gente não quer só dinheiro / A gente quer inteiro e não pela metade / Bebida é água / Comida é pasto / Você tem sede de quê? / Você tem fome de quê? / A gente não quer só comida / A gente comida, diversão e arte / A gente não quer só comida / A gente quer saída para qualquer parte / A gente não quer só comida / A gente quer bebida, diversão, balé / A gente não quer só comida / A gente quer a vida como a vida quer / Bebida é água / Comida é pasto / Você tem sede de quê? / Você tem fome de quê? / A gente não quer só comer / A gente quer comer e quer fazer amor / A gente não quer só comer / A gente quer prazer pra aliviar a dor / A gente não quer só dinheiro / A gente quer dinheiro e felicidade / A gente não quer só dinheiro / A gente quer inteiro e não pela metade / Desejo, necessidade e vontade / Necessidade e desejo / Necessidade e vontade / Necessidade e desejo / Necessidade e vontade

Dia de banquete no Centro da Cidade


Feriado de Corpus Christi, quinta-feira de sol e céu azul no Rio. Queríamos almoçar fora e fazer um passeio diferente com o João Pedro.

Resolvemos comer no Nova Capela, aonde não íamos há um tempão. Na ida pro restaurante, passamos pelo Aterro do Flamengo, vimos os preparativos para a missa e as pessoas já começando a chegar. Pensei que a idéia de ir pro centro da cidade não tinha sido muito feliz... Mas já estávamos animados demais pra voltar atrás.

O Nova Capela fica na rua Mem de Sá 96, na Lapa e é um desses restaurantes tradicionais do Centro do Rio, que servem pratos fartos e bem-feitos, como já não vemos nos restaurantes a quilo de hoje em dia, muito menos nos restaurantes da moda.

Chegamos e pedimos logo os bolinhos de bacalhau. Chopes pra mim e pro Zé e para o João Pedro, suco de laranja. Na hora da escolha do pedido, bateu aquela indecisão, fiquei com medo do JP não curtir muito o cabrito. Sei lá, né? Paladar de criança a gente nunca sabe... Mas, ir ao Nova Capela e não comer cabrito é uma heresia, ainda mais no nosso caso, que estávamos sem ir lá há séculos... Então, nos decidimos pelo cabrito. O prato chegou à mesa fumegante, a carne super saborosa e, de tão macia, desmanchava na boca. Para acompanhar, batatas coradas, crocantes por fora e macias por dentro, e arroz de brócolis ou “arroz com verdurinha”, como diz o João. Já tinha me esquecido da expressão “comer de joelhos”, mas esse cabrito merecia. A comida estava simplesmente divina. Tivemos um banquete digno do que ainda viria pela frente, no nosso passeio da tarde, e uma noitada para tirar o mofo.

Ah! Já ia esquecendo de contar: quem estava na mesa ao lado era o Zeca Baleiro, com mulher, babá e crianças, também se fartando com a boa mesa...

24.5.05

Casa de areia


Semana passada, fui assistir Casa de Areia, de Andrucha Waddington. Não podia deixar de conferir a atuação das Fernandas num filme que conta a história de três gerações de mulheres, todo rodado nos Lençóis Maranhenses.

São 59 anos em que não acontece nada, mas o nada é também tudo, e mãe, filha e neta são confrontadas com a vida, o desejo, a morte, a natureza.

Logo nos primeiros minutos, a imagem da caravana na paisagem grandiosa e desoladora do deserto encanta e assusta. O que aquela gente tá fazendo ali? Estão indo pra onde? Foram em busca do quê?

Essas perguntas perdem um pouco o sentido dali pra frente.

Se existia alguma razão para aquela jornada, ela fugiu com os empregados ou morreu junto com o marido, um aventureiro que comprou um naco de terra num deserto de areia e carregou pra lá a mulher grávida, a sogra e um séqüito de empregados.

As duas mulheres, mãe e filha, se vêem ali, arrastadas para um ambiente inóspito e para uma vida de isolamento que não escolheram. Elas tentam ir embora, mas desistem diante o labirinto de areia. Vão se adaptando as condições, aprendendo a trocar seus pertences por comida pra sobreviver, ao mesmo tempo em que aprendem a abandonar o supérfluo e viver com o essencial. Quando percebem, estão irremediavelmente presas àquele lugar e àquela vida.

Os únicos homens ali são Massu, o negro pescador, de cara amarrada e pouco papo, que vive numa aldeia - um antigo quilombo a algumas horas de caminhada da casa delas - e as ensina a sobreviver no meio do areal; e Chico, o vendedor de sal, o único que chega e parte, e mantém viva na viúva a esperança de sair dali.

A mãe, Dona Maria, com sua maturidade, é a primeira a se acomodar e perceber algum sentido naquele ambiente desprovido de qualquer vestígio de civilização (“não tem nenhum homem pra mandar em mim”).

A filha, mesmo depois de 9 anos, não se conforma com o isolamento, e sonha em voltar à vida na cidade. Só desiste de partir quando descobre o amor improvável nos braços de Massu. Num dos trechos mais bonitos do filme, ela sai atrás do vendedor de sal, o único que podia tirá-las daquele lugar e, depois de testemunhar um eclipse do sol, se depara com uma expedição de cientistas estrangeiros registrando o fenômeno. Nesse acampamento militar, ela tem um reencontro com os prazeres da vida, a vaidade, a música e o sexo. É maravilhoso!

A neta, que nasceu entre as dunas e o mar, e nunca conheceu outra vida, é a única que consegue se livrar do destino, ou ir ao encontro dele... Mesmo assim, só aos 35 anos.

O final, que eu não sou louca de contar, também é arrebatador! As mulheres, a natureza, o ciclo da vida e da morte, as escolhas, os reencontros...

Se os diálogos são contidos, todo o resto é grandioso: o céu, as dunas, o vento, o mar, as emoções, os desejos. Um filme pra fazer pensar... e pra se ver mais de uma vez!

PS: Nesse post, a música ficou comprometida... Mas, pra ficar no clima do filme, tente imaginar o barulho do vento, das rajadas de areia e do mar aberto...

17.5.05

Domingo é dia de teatro!


Depois do primeiro filho a vida muda radicalmente, é verdade. Mas, ninguém precisa se assustar!

Se por um lado, deixa-se de lado (pelo menos por um tempo) as noitadas, as festas, as rodas de samba e o bate-papo nos bares até altas horas, ou a praia sem compromisso até o anoitecer, por outro, inclui-se na agenda programas diurnos ou tipicamente infantis, como caminhadas na praia pela manhã, passeios no zoológico, e peças infantis no final de semana.

Se maioria das pessoas abomina esse tipo de programa, estou adorando descobrir esse mundo. E foi justamente graças a essa mudança de foco, que pude me esbaldar neste domingo numa verdadeira maratona de teatro infantil.

Esta semana está acontecendo aqui no Rio o 3º Seminário Nacional Sesc CBTIJ de Teatro para Infância e Juventude: “Teatro, pra que serve?”, promovido pelo CBTIJ - Centro Brasileiro de Teatro para a Infância e Juventude. E para abrir o seminário, vários grupos teatrais deram uma amostra grátis do seu trabalho no Parque dos Patins, na Lagoa.

Chegamos pro almoço no Quiosque Árabe, e como entrada e sobremesa, em meio a quibes, kaftas, esfihas e picolés, nos deliciamos (debaixo da providencial lona alaranjada) com os espetáculos:
Divino Emaranhado, com Juliana Manhães;
A Família Sujo, com o grupo gaúcho Cuidado que Mancha;
As Aventuras de Pedro Malazartes, com a Cia. Será o Benidito?;
Fuzarca da Lira ataca novamente, com o grupo A Fuzarca da Lira;
Rádio Maluca, com Zé Zuca.


Dá gosto saber que o teatro infantil está cheio de gente talentosa, abordando temas interessantes e educativos de forma divertida, não só pra criançada, mas pra família toda.

Vamos ao teatro?

Pra continuar na brincadeira "uma postagem, uma música", segue abaixo uma homenagem à música popular e ao teatro de rua, por um artista que eu amo de paixão!

Vinde, vinde moços e velhos (domínio público), ref. Antônio Nóbrega

Vinde, vinde, moços e velhos, vinde todos, apreciai, como isto é bom, como isto é belo, como isto é bom, é bom demais, olhai, olhai, admirai, como isso é bom, é bom demais.

16.5.05

Eu sinto vergonha por eles

Quem não leu a coluna da Martha Medeiros deste domingo, 15/05/05, na Revista O Globo, não sabe o que perdeu.

Ela falou desse vício nosso de cada dia, de achar que escrever bem é obrigação dos "profissionais da área", ou seja, é só para os escritores, jornalistas e professores.

Pra quem já esqueceu, o português é a nossa língua-mãe, idioma que usamos para nos comunicar em qualquer área e em todas as atividades do nosso dia-a-dia, independente da profissão que escolhemos.

Sempre acreditei que qualquer pessoa que passou por um banco de escola, e mais ainda quem tem uma formação superior, tem obrigação de escrever bem. E isso não significa usar e abusar "no bom sentido" do português, mas simplesmente escrever de forma correta, sem erros de ortografia, utilizando a pontuação adequada, construindo frases de forma simples e com clareza.

Mas, infelizmente, o que mais vemos no nosso dia-a-dia são profissionais (a maioria deles bem-sucedidos) que, se valendo do fato de não serem "da área", vivem cometendo verdadeiros crimes contra o português. Eu sinto vergonha por eles. Ou como diz a minha mãe, "eu acho o fim da picada".

Por causa disso, distribui a coluna da Martha pra toda a minha lista de e-mail e estou postando aqui esse texto.

Boa escrita pra todos!!!

P.S.: Sempre gostei de traduzir em músicas as coisas que penso, as vezes pra facilitar o entendimento, outras só pra descontrair. Faço isso desde pequena, e sempre me diverti muito com essa brincadeira. Vou tentar fazer isso aqui. Pra cada assunto postado, uma letra ou um trecho dela, pra sonorizar.

A Língua, de Caetano Veloso
Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões/Gosto de ser e de estar/E quero me dedicar a criar confusões de prosódia/E uma profusão de paródias/Que encurtem dores/E furtem cores como camaleões/Gosto do Pessoa na pessoa/Da rosa no rosa/E sei que a poesia está para a prosa/Assim como o amor está para a amizade/E quem há de negar que esta lhe é superior?/E deixa os Portugais morrerem à míngua"/Minha pátria é minha língua"/Fala Mangueira! Fala!/Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó/O que quer/O que pode esta língua?/(...)/Se você tem uma idéia incrível é melhor fazer uma canção/Está provado que só é possível filosofar em alemão

14.5.05

Minha primeira vez no "meu blog"

Depois de um tempo resistindo a tentação da exposição, capitulei!

Acho que menos pela exposição e mais pelo prazer de compartilhar... idéias, opiniões, impressões, momentos, sentimentos...

Hum! Lá vou eu...