Portentoso e altaneiro

Esse blog é uma homenagem ao samba "Ciência e Arte", de Carlos Cachaça e Cartola, composto para o enredo da Mangueira de 1947. Carioca meio paulista, gosto mais de gente que de bicho, curto livros, cinema, música, poesia, viagens, comes e bebes, e um bom papo. Aqui vou postar minhas opiniões sobre assuntos do cotidiano. Quem quiser compartilhar, esteja à vontade!

28.6.05

Entre umas e outras


Tinha lido a sinopse de "Sideways, entre umas e outras" no jornal e gostei da idéia de misturar amigos, vinhos e altos papos.

Incluí na minha lista de desejos do site da locadora e pedi que me avisassem quando chegasse. Este final de semana, levei o DVD pra casa e me deliciei com o filme.

Gostei que os personagens são gente como a gente, tipos com quem poderíamos esbarrar na esquina comprando pão ou bebendo no bar. Mas a coisa mais interessante, que chamou minha atenção, foi o contraponto entre os personagens masculinos.

Miles é o típico divorciado inconformado e depressivo, um professor que sonha se tornar escritor, mas que não consegue implacar um livro. Jack é um ator-galã passado do ponto, um tipo sedutor e mulherengo, que está prestes a se casar. Miles resolve dar de presente de casamento ao amigo uma viagem pelas vinícolas da California.

A dupla estranha cai na estrada. Miles é conhecedor de vinhos, e está saindo de um casamento falido e entrando naquela idade em que as chances de recomeçar a vida vão ficando cada vez mais difíceis. Jack vai se casar na próxima semana com uma patricinha linda e rica, e quer aproveitar a viagem para cair na farra e comer algumas mulheres.

Um é tristonho e vive preocupado, o outro é charmoso e só pensa em sexo. Um está em busca da garrafa perfeita, o outro adora um vinho barato. Mas, apesar das diferenças, eles compartilham as ambições fracassadas com o fim da juventude, e o início da crise da meia-idade.

Outro aspacto legal é o paralelo sutil e bem construído entre o vinho e a vida. Como os vinhos, os amigos estão em curvas distintas: enquanto um parece que ainda terá seu apogeu, o outro já desce ladeira abaixo. Miles, que a princípio parece ser uma cara chato, metódico e saudosista, vai ao longo da viagem se transformando num cara sensível e interessante. E, apesar dos tombos, desabrocha para a vida. Jack, que de início seduz com seu espírito livre e impulsivo, funcionando como uma alavanca para o amigo chato e contido, ao final se revela cínico e infantil.

Além de tudo isso, o filme foi super elogiado pela crítica e ganhou o Oscar de melhor Roteiro Adaptado, além de ter sido indicado em outras 4 categorias: Filme, Diretor, Ator Coadjuvante (Thomas Haden Church) e Atriz Coadjuvante (Virginia Madsen).

Sem dúvida nenhuma, vale a pena conferir!


21.6.05

Mulheres...


Este sábado, 18 de junho, foi a estréia do perfil da Paula no Mulher Procura, do GNT.

Eu já estava esperando o programa há uns dois meses, só na expectativa. A idéia da produção é traçar o perfil de 13 mulheres na casa dos 30, em busca do par perfeito. Mulheres de todos os tipos e para todos os gostos. E a Paula foi escolhida para fechar a série.

No último programa, ela conta sobre as mudanças físicas e pessoais do último ano, quando passou por uma cirurgia de redução do estômago (como eu!) e começou a se liberar de muitos fantasmas. Admite, pro espanto de muitos, que mesmo com toda a liberdade e individualidade que precisamos e nos fazem tão bem, nascemos mesmo pra compartilhar a vida com um par. E abre seu coração para falar sobre a expectativa de encontrar a cara-metade. Mas, tudo isso de uma forma muito sincera e sem ansiedades, como se agora soubesse que o que é dela está guardado, é só dar tempo ao tempo.

A Paula é minha amiga querida há uns dez anos, desde a época da faculdade. Uma garota muito especial, culta, inteligente, divertida e sarcástica, que consegue rir de todos e, principalmente, dela mesma.

Além de amar muito a minha amiga pelas suas enormes qualidades, nos entendemos também por causa dos nossos grandes "defeitos": divido com a Paula a minha falta de adequação corpórea, nesse mundo de culto a corpos malhados e cabeças vazias. Na verdade, nós duas vivemos a maior parte das nossas vidas fora do peso, e sofremos bastante por causa disso. Mas, como somos garotas espertas, sempre soubemos compensar essa inadequação com altas doses de carisma, inteligência e bom humor. ;o)

Ou pensávamos que sabíamos, porque chegou uma hora em que a gente cansou de tomar chá de cadeira nos bailes da vida. Seja na conquista de um namorado (o caso da Paula), na vida sexual com o marido (o meu caso), ou até nas coisas mínimas da rotina, como subir uma escada, correr atrás do filho no parque, tomar um ônibus ou sentar numa poltrona de avião, o excesso começou a incomodar demais. Em abril do ano passado, nós duas fizemos a cirurgia, na tentativa de tirar do foco a gordura, e poder curtir a vida, olhando pros lados.

De qualquer forma, independente do nosso novo shape, pra amar garotas como nós (abundantes e transbordantes), precisamos de homens mais decididos, que na contra-mão da estética predominante, se deixem fascinar por outros atributos, que gostem de uma certa carne pra apertar, e que valorizem não só nosso excesso de carne, mas também de neurônios e hormônios. E é justamente com esses caras que nos damos bem.

Comigo, aconteceu em 1991, e nessa brincadeira já se passaram 14 anos... Tudo bem, naquela fase eu estava bem mais em forma ao final de mais um regime, mas meu marido sempre admitiu que é chegado a um mulherão, com bunda, coxa e cintura de violão (pra não perder a rima)... Essas coisas que a gente abomina e faz de tudo para se livrar!

E a Paula vai encontrar o seu par também, mais cedo ou mais tarde.

Estamos aqui pra dançar muito no salão de baile que é a vida, poder trocar de par até encontrar um que dance no nosso ritmo, que saiba nos conduzir e nos faça rodopiar. Eu acho que já encontrei o meu pé-de-valsa... que por sinal, é um perfeito pé de chumbo... Mas, fazer o quê, né? Ninguém é perfeito!

Perigosa, Frenéticas
Eu sei que eu sou bonita e gostosa / E sei que você me olha e me quer / Eu sou uma fera de pele macia / Cuidado, garoto, eu sou perigosa / Eu tenho um veneno no doce da boca / Eu tenho um demônio guardado no peito / Eu tenho uma faca no brilho dos olhos / Eu tenho uma louca, dentro de mim / Eu sei que eu sou bonita e gostosa / E sei que você me olha e me quer / Eu sou uma fera de pele macia / Cuidado, garoto, eu sou perigosa / Eu posso te dar, um pouco de fogo / Eu posso prender, você meu escravo / Eu faço você feliz e sem medo / Eu vou fazer você ficar louco / Muito louco, muito louco / Dentro de mim



16.6.05

Pacto de mediocridade não!

Recebi hoje um texto lindo da minha querida amiga Maria João, de Portugal. A Maria João e a irmã dela, Maria Isabel, são amigas minha e da minha irmã desde pequenas, quando elas, portuguesas, vieram morar no Rio... Acabou que nossas famílias ficaram amigas também, e até hoje, mesmo à distância, cultivamos com muito amor a nossa amizade.

Temos muitas histórias hilárias pra contar. O nosso primeiro empreendimento mirim, quando vendíamos livros, revistas e gibis na calçada da rua. Os nossos pilequinhos de licor de menta quando nossas mães não estavam em casa. Com a mãe delas, tia Tatao, aprendi a tomar refresco de café, feito com Nescafé, água gelada e limão, que nem mate. Uma delícia!

Essa mensagem de hoje que ela me mandou me fez lembrar um dos aprendizados da Soma, a terapia que fiz no ínicio dos 90, com o Roberto Freire. A Soma apontava para o perigo que era a gente abrir do nosso melhor, se contentar com o pouco, tanto no dar quanto no receber, e perder a nossa energia vital.

Mais ou menos, Chico Xavier

A gente pode morar numa casa mais ou menos,
Numa rua mais ou menos,
Numa cidade mais ou menos.
E até ter um governo mais ou menos.
A gente pode dormir numa cama mais ou menos,
Comer um feijão mais ou menos,
Ter um transporte mais ou menos,
E até ser obrigado a acreditar mais ou menos no futuro.
A gente pode olhar em volta e sentir que tudo está mais ou menos. Tudo bem.
O que a gente não pode mesmo, nunca, de jeito nenhum,
É amar mais ou menos,
É sonhar mais ou menos,
É ser amigo mais ou menos,
É namorar mais ou menos,
É ter fé mais ou menos.
E acreditar mais ou menos.
Senão a gente corre o risco de se tornar uma pessoa mais ou menos.


“Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.”

14.6.05

Mar de lama

Tentei não tocar no assunto até agora, mas não dá pra viver no Brasil com um mínimo de posicionamento político e ficar imune a essa podridão que veio à tona com as denúncias contra o governo do PT.

Tudo bem que sempre convivemos com corrupção em todas as esferas, dentro e fora do poder, no serviço público e na iniciativa privada. Mas, apesar de conviver com isso, não consigo achar normal. Ainda mais, sendo justamente num governo do PT.

Desde 1989 (“meu primeiro voto”), venho dando meu voto de confiança aos candidatos do PT, de vez em quando ao PV ou PCB (é na minha época era assim, não tinha essa de PPS), por acreditar que o nosso país é muito bom pra viver nessa miséria.

Mas, desde a posse do Lula, em 2003, acho muito escrota essa união do PT com esse bando de calhordas do PTB, PL, PP... tudo em nome da “governabilidade”. Fala sério! Um bando que sempre esteve por cima da carne-seca: na ditadura, apoiando o PFL do Sarney, o PRN do Collor, o PMDB do Itamar, o PSDB do FHC e agora, até o PT! Como sanguessugas, que só querem continuar mamando nas tetas da viúva. Tava na cara que isso não ia terminar bem.

Posso ainda me decepcionar muito, mas mantenho a esperança. Afinal de contas, quem coloca os mandantes lá, na câmara, no senado e no palácio, somos nós. Essa é a maior arma que temos. Quem sabe um dia ainda aprendemos isso.

E por falar em escolher bem, essa semana estava lendo a entrevista do Fernando Gabeira
na Veja. Ele abandonou o PT em outubro de 2003, por discordar dos rumos que o governo tinha tomado já nos primeiros 9 meses de poder. Tenho uma relação muito especial com esse sujeito. O Gabeira, assim como o Zuenir, com seus respectivos “O que é isso companheiro” e “1968, o ano que não terminou”, foram os responsáveis pela minha iniciação política. Acompanhei sua trajetória de jornalista-guerrilheiro-seqüestrador dos anos 60, passando pelo ex-exilado-hippie-de-tanga dos 70, pelo escritor-político-verde-legalize dos 80/90, até o senhor muito moderno dos dias de hoje, que luta pela ecologia, pela qualidade de vida e pela ética. Eu sempre o respeitei e admirei pelas posições em cada um dos momentos acima e, principalmente, por não ter vergonha de mudar, mantendo a sua essência.

Barato total, Gilberto Gil

Quando a gente tá contente / Tanto faz o quente, tanto faz o frio, tanto faz / Que eu me esqueça do meu compromisso / Com isso ou aquilo que aconteceu dez minutos atrás / Dez minutos atrás de uma idéia / Já deu pra uma teia de aranha crescer / Sua vida na cadeia do pensamento / Que de um momento pro outro começa a doer / Lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá / Lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá / Quando a gente tá contente / Gente a gente quer pegar / Barata pode ser um barato total / Tudo que você disser deve fazer bem / Nada que você comer deve fazer mal / Quando a gente tá contente / Nem pensar que está contente / Nem pensar que está contente a gente quer / Nem pensar a gente quer / A gente quer é viver.

7.6.05

Passeio pela Baía de Guanabara


No domingo, dia 5 de junho, acordamos com um dia típico de outono: sol forte, céu azul e uma luz maravilhosa.

Para aproveitar o dia e pra não perder o hábito, resolvemos fazer um passeio com o João Pedro. Saímos de casa tipo 11 horas e fomos pro Espaço Cultural da Marinha fazer um passeio de barco.


Tínhamos também a opção de fazer a visita guiada à Ilha Fiscal, mas naquele dia o trajeto do cais até a ilha estava sendo feito de ônibus, e a gente queria mesmo era pegar um barco, ver o mar, sentir o vento no rosto e curtir a paisagem. Soubemos que em outros dias o passeio até a ilha era feito numa escuna, a Nogueira Gama, e preferimos deixar a visita para outro dia.

Fomos passear por lá e ficamos tão maravilhados que, mesmo com toda a espera que teríamos, decidimos fazer o passeio marítimo no próximo horário. Compramos nossos ingressos para o barco de 15:15h - 8 Reais cada adulto e o João Pedro pagou meia.

Continuamos o passeio, visitamos a exposição do centro cultural e conhecemos o navio-museu Bauru. Enquanto pensávamos aonde ir e o que fazer até a hora do passeio, vimos que o barco que estava saindo não estava lotado e perguntamos ao comandante se podíamos trocar nossos ingressos pra não ter que ficar esperando tanto tempo. Conseguimos e embarcamos no passeio de 13:15h. Uhu!!!

O passeio marítimo é feito num navio-museu da Marinha Brasileira de 1910, o rebocador Laurindo Pitta. A embarcação tem lugar para 90 pessoas, está em ótimas condições e conta com uma guia turística que vai dando todas as informações e detalhes sobre o trajeto. O passeio dura cerca de uma hora e vinte, passa pela Ilha Fiscal, Ilha das Enxadas, Ilha de Villegagnon e vai até Niterói.

Ao longo do passeio, a guia foi dando informações sobre fatos históricos, geografia e cultura do Rio de Janeiro, apontando pontos históricos, lembrando datas e contando um pouco sobre a ocupação da cidade e seu crescimento. Deu mil dicas de passeios e coisas interessantes a se fazer na cidade. Vimos a cidade de um ângulo totalmente novo, incluindo Cristo Redentor, Pão de Açúcar, Aterro do Flamengo, Urca...

Aprendemos que o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, obra-prima do gênio Oscar Niemayer, foi inspirado no desenho de uma flor, que o seu revestimento externo é feito do mesmo material utilizado nos foguetes da NASA e os vidros são os mesmos usados em aviões.

Aprendemos também que o Prédio da Praça Mauá onde fica a Rádio Nacional foi primeiro arranha-céu da cidade, e coincidentemente está bem ao lado do Rio Branco 1, o primeiro edifício inteligente do centro do Rio. E no trajeto de retorno ao cais, ainda fomos brindados com um cardume de peixes que acompanhou o rebocador.

Além dos fatos histórico-culturais, aprendemos também que as embarcações da Marinha são classificadas pela cor: os navios brancos são os de pesquisa, os cinzas são os de guerra e tem também um navio de pesquisa que, por navegar na Antártica, teve que ser pintado de vermelho, para se destacar no meio do branco glacial.

Serviço
O complexo cultural da Marinha é formado pelo Espaço Cultural, a Ilha Fiscal, o Museu Naval, biblioteca, arquivo e três navios-museus: o submarino Riachuelo, o contratorpedeiro Bauru e o rebocador Laurindo Pitta. Av. Alfred Agache s/nº - Centro – RJ, telefone 2233-9165.
- Passeio marítimo a bordo do Rebocador Laurindo Pitta, de 5ª a domingo, as 13:15h e 15:15h.
- Visita guiada à Ilha Fiscal de 5ª a domingo, as 13h e 14:30h e 16h.
Entrada a R$ 8,00 (crianças, pessoas com mais de 65 anos estudantes pagam meia entrada). Os ingressos são vendidos a partir das 11h.

O Estrangeiro, Caetano Veloso
O pintor Paul Gauguin amou a luz da Baía de Guanabara / O compositor Cole Porter adorou as luzes na noite dela / A Baía de Guanabara / O antropólogo Claude Levy-strauss detestou a Baía de Guanabara / Pareceu-lhe uma boca banguela / E eu menos a conhecera mais a amara? / Sou cego de tanto vê-la, te tanto tê-la estrela / O que é uma coisa bela? / O amor é cego / Ray Charles é cego / Stevie Wonder é cego / E o albino Hermeto não enxerga mesmo muito bem / Uma baleia, uma telenovela, um alaúde, um trem? / Uma arara? / Mas era ao mesmo tempo bela e banguela a Guanabara / ... / Não olho pra trás mas sei de tudo / Cego às avessas, como nos sonhos, vejo o que desejo / ... / O certo é louco tomar eletrochoque / O certo é saber que o certo é certo / O macho adulto branco sempre no comando / E o resto ao resto, o sexo é o corte, o sexo / Reconhecer o valor necessário do ato hipócrita / Riscar os índios, nada esperar dos pretos / E eu, menos estrangeiro no lugar que no momento / Sigo mais sozinho caminhando contra o vento / E entendo o centro do que estão dizendo / Aquele cara e aquela / É um desmascaro / Singelo grito: "O rei está nu" / Mas eu desperto porque tudo cala frente ao fato de que o rei é mais bonito nu / E eu vou e amo o azul, o púrpura e o amarelo / E entre o meu ir e o do sol, um aro, um elo. / ("Some may like a soft brazilian Singer but i've given up all attempts at perfection").